quinta-feira, novembro 20, 2003

Plágio

Olhou para as pessoas que passavam e notou que era sempre ali que acabava por ir ter. Como se aquele sítio fosse um tipo de refúgio à sua dor, como se a cor e o movimento, podessem diminuir o turbilhão que crescia em si. Olhou para o relógio na tentativa de ter preenchido parte do seu tempo, mas constatou que este pouco tinha avançado desde que ali chegara e começou a passear. Olhava para as montras mas nada nelas lhe chamava à atenção, perdia-se aos poucos naqueles dolorosos pensamentos que tantas vezes tentara esquecer, que tantas vezes tentara evitar... e ali estava, parado à porta do café onde em tempos conhecera aquele que seria o seu maior amor e, também, a sua maior dor. De repente era como se todo o mundo tivesse deixado de existir, como se o chão lhe fugisse e nada mais tivesse importância, tantos meses passados do fim desta relação e o sentimento de destruição interior parecia não querer diminuir. Parou, não no movimento que há muito se houvera extinguido, mas no pensamento. Quando regressou, sentiu a chuva que caia e pela qual nem tinha dado conta, soube-lhe bem o peso grave contido em cada nova gota que batia no seu cabelo e suavemente escorria pela sua face, parecia que estas gotas levavam consigo parte do seu sofrimento, que o deixavam mais leve, rejuvenescido. Continuou o seu caminho, certamente não seria o mesmo ser que ali chegara há quase uma hora atrás, havia em si uma nova leveza, uma esperança escondida de que tudo acabaria por passar... quem sabe o desejo de que houvessem novos dias de chuva enquanto não chegasse a primavera.

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