sábado, julho 29, 2006

Mensagens

O telemóvel assinalou a recepção de uma mensagem. Por dentro todo o seu organismo estremeceu com o som emitido pelo aparelho de comunicação, criou-se em segundos uma expectativa. Olhou para o telemóvel tentando parecer desinteressado, como se fosse apenas mais uma mensagem... esperava que fosse muito mais que isso. Podia não dizer nada de especial, podia ser sobre o mais banal dos assuntos, mas seria dele? Seria mais uma mensagem para criar uma interpretação, um sentimento?
Agradava-lhe o jogo, a conquista sublime contida nas palavras, nos gestos e olhares. Nunca antes o tinha tido desta forma intensa, neste limbo entre o que é ou não permitido numa dança da qual não se conhecem todos os passos. Mas foi dançando, um dia de cada vez, devagar... Recordava o primeiro encontro, a primeira saída. Recordava o jantar com cada pormenor, com cada gesto, com a intensidade de vários olhares que por dizerem tanto eram mudos. Persistia nele a dúvida. Não a dúvida simples do que está a ser sentido pelo outro lado, mas sim sobre se o outro poderá alguma vez sentir da mesma forma.
Desbloqueou o telemóvel. Viu o envelope e a indicação de um nome surgiu normalmente no ecran. Sorriu. Sorriu interiormente mais do que o que foi visivel. Ficou contente, ficou feliz. A mensagem era da pessoa que desejava, da pessoa sobre a qual ficava na expectativa de poder ver e tocar todos os dias. Tinha dúvidas, demasiadas dúvidas e, embora o instinto se atira-se de cabeça, o coração já remendado e a consciência sempre resmungona mantinham-se mais racionais. A questão pairava pelo ar? Gostará ele de mim? E todas as tentativas para a responder pareciam falhar... nesta história era o tempo quem ditaria o fim, era uma história em que o tempo parecia avançar e recuar. Como numa dança, por cada passo em frente vários dão-se para os lados e alguns chegam mesmo a ir para trás. Cada dia era um pequeno avanço e, por vezes, um grande retrocesso. Mas estava feliz. Feliz porque mais do que ter medo de poder atirar-se contra a parede existia o medo de a parede nunca existir de todo...