quinta-feira, abril 28, 2005

A ti Velhice...

Hoje vi-te uma face diferente,
vi-te a juventude desgastada pelo tempo,
as rugas marcadas pela idade,
e falavas num sofrimento emergente...
Disseste-me olá uma vez mais,
demonstrando que me aguardas calmamente,
que esperas que um dia eu te alcance.
Neguei-te novamente sentindo-me impotente,
sabendo que serás tu a minha sorte!
Sorriste-me, percebendo o meu doce desespero,
o meu medo em alcançar-te...
Perguntaste-me, calma, se temia a morte,
disse-te que não, que não era esse o meu medo.
Olhaste-me com os teus olhos já vazios,
procurando em mim uma nova solução,
uma resposta que fosse em tudo diferente...
e eu olhei-te nos olhos friamente,
e disse-te: não te quero em meu horizonte
porque para mim não és mais,
em nada diferente, desse monstro chamado solidão...


Por estranho que pareça, mais do que à doença, no meu local de estágio vejo demasiado sofrimento ligado à velhice, a esta fase que deveria ser totalmente diferente, que não deveria significar o abandono a que vejo delegada tanta gente mas sim uma partilha de conhecimentos acumulados numa vida... mas como se transmite conhecimento se não há quem o receba? se aqueles que mais amámos durante anos se afastam por cada nova ruga que aparece?... às vezes tenho medo de chegar a esta fase, medo de todas as perdas que ela representa, medo de chegar a um ponto onde não possa ser auto-suficiente e me aperceba, aí sim, da minha imensa solidão...

quinta-feira, abril 14, 2005

quem diria...



Your Brain is 46.67% Female, 53.33% Male


Your brain is a healthy mix of male and female
You are both sensitive and savvy
Rational and reasonable, you tend to keep level headed
But you also tend to wear your heart on your sleeve

quarta-feira, abril 13, 2005

Retrospectivas

Olho para todas as coisas que escrevi nos últimos tempos e percebo um pouco mais os sentimentos que me consumiram e me consomem ainda hoje. Tento exteriorizar uma indiferença que não convence, nem a mim, e no entanto, dizer-me que sinto a falta de tantas coisas do passado custa-me ainda mais, demasiado. Talvez tenha sido eu a expulsar algumas dessas coisas da minha vida, talvez tenha sido eu a ficar cansado e saturado de tantas outras mas que muda isso de facto? Dizem-me que os sentimentos não deveriam ser estes, que se fosse o que supostamente aparentava não deveria ser assim. Pois lamento, mas não concordo. Era por ser tão verdadeiro, por ser tão importante para mim que os sentimentos são assim. Foram de desilusão, foram de mágoa e agora, mais que tudo sei que são de raiva, de vontade de desistir e acabar com tudo aquilo que anda num impasse, numa terra de ninguém. Reafirmo muitos sentimentos percebendo agora aquilo que não avancei, a mágoa que ainda em mim habita, mas noto que as consequências são diferentes... e nada me afecta da mesma forma.
Como tudo tem um lado positivo, nada do que aconteceu nos últimos tempos poderia ser diferente, fez-me crescer, e muito. Fez-me deixar de viver em fantasias, porque o eram de facto, talvez até mais que isso, talvez fossem patalogias latentes, a irromper. Não deixei de amar ninguém, como já tantas vezes o afirmei, mas as coisas mudam e sejamos francos, tudo mudou. As pessoas, os sítios, as interacções. E talvez isso até nem seja negativo, pelo contrário, ficam aqueles que querem e podem ficar, vão-se aqueles que não querem ou não podem ficar e a vida continua e como li algures há pouco tempo alguns utilizarão outras forma de fazer as despedidas dizendo simplesmente, "até sempre".
Como também já disse a algumas pessoas talvez eu deturpe algumas coisas, talvez até chegue a dramatizar umas tantas outras. Esta é a minha forma de sentir, a minha forma de viver. Quando me dou, dou-me de coração aberto, dou-me na totalidade do que sou. E, talvez por isso, quando me sinto de forma diferente tenda a ser bastante radical nas minhas formas de expressão, nas palavras, nas acções. Relendo alguns comentários acho importante dizer duas coisas mais. Sim, eu digo coisas sérias a brincar (e isso é algo que estou a aprender a não fazer, cada vez mais tentarei abolir esse comportamento por todos os disabores que já me trouxe), mas já expliquei o porquê num outro post e portanto não desenvolvo mais essa questão. Quanto às desculpas, não tenho desculpas a pedir neste momento, pedi-as a quem senti que devia pedir e, em alguns casos, até o fiz mais do que uma vez, mas existem diferenças. Existe o pedido de desculpas e existe o deitar-me no chão para passarem por cima, a segundo não o faço mais, já o fiz em tempos e mantenho apenas ilusões de amizades e carinhos que de facto não existem... não vou mais arrastar-me pela amizade de ninguém, porque a amizade não é moeda de negócio ou de troca, é algo que se dá de livre vontade a quem se quer, a quem se estima, eu vejo as coisas assim e talvez esteja errado, talvez...
Peço desculpa, mais uma vez, por voltar a estes temas, mas apeteceu esclarecer algumas coisas por conversas que ocorreram e por comentários que reli aos posts anteriores... enfim, talvez tenha ficado centrado neste tema, será um trauma que me vai acompanhar mas que prometo não voltar a mencionar aqui para quem lê (até porque não tenciono ficar com ele para sempre)... Abraços e beijos a todos... e até sempre (e espero que o sempre seja breve, em cada dia para todos aqueles que amo, como sempre amei...). Já agora soube bem esta última catarse...

terça-feira, abril 12, 2005

Mudanças pelo tempo

Hoje todo o mundo se mudou,
o sol brilhou de forma diferente
e a tua falta esteve tão patente...
Senti hoje o real fosso
que entre todos se criou,
entre o passado e o presente
e de como tudo de facto se alterou.
Quis voltar atrás no tempo.
refazer tudo de forma diferente
e, no entanto, tão impotente,
incapaz de alterar as marcas,
profundas cicatrizes que o tempo nos criou.
Relembro a inocência que tinhamos,
as mágoas que em conjunto adquirimos
e o tão pouco que hoje somos em comum.
Todos os momentos que passámos,
as situações que prolongámos pelo prazer
de tudo aquilo que nunca seremos,
mas agora somos o que nunca antes fomos,
hoje somos livres no nosso amor...
e se... será que podemos

terça-feira, abril 05, 2005

Novidades

Queria só dizer duas coisas, uma é que o post anterior chama-se desejos porque está dentro do meu desejo de que se pudesse fazer mais para evitar esta infecção crescente pelo HIV. A segunda é que há bem pouco tempo chamaram a minha atenção (obrigado Marisa) para o novo link que está ali inserido no lado direito, mas que vou aqui indicar http://verdadeiroeu.blogspot.com/ para ser mais fácil. Adorei, e devorei, tudo o que este jovem rapaz escreveu/escreve na sua página, nesta sua auto-biografia em que nos guia por uma história de vida muito pessoal e muito sentida. Não só acho importante ler para ter noção das realidades alheias, mas principalmente porque nos permite aprender muito mais do que isso. Como futuros profissionais na área de psicologia, muitos dos que lêem este blog o são, é importante pensarmos qual seria a nossa reacção se pais, como os ali relatados, viessem ao nosso encontro e nos pedissem para "curarmos" o seu filho homossexual. Infelizmente esta realidade não é assim tão improvável e toca-nos a todos.
Na minha opinião pessoal não acho que pudesse sequer trabalhar esta questão dado que provavelmente a minha vontade seria de ofender os pais e chamá-los retrógrados. Claro que não o faria desta forma, mas seria complicado, muito complicado, pela forma como o tema de toca... acho que como psicólogos temos a obrigação e dever de pensar nisto. Bons pensamentos!

segunda-feira, abril 04, 2005

Desejos

Hoje apercebi-me da necessidade de falar das coisas que são tidas quase como tabus, dos pensamentos e crenças erradas que ainda "passeiam" pela nossa piscina cultural e são, erradamente, transmitidas de boca em boca. Vem com esta noção um certo sentimento de impotência, de como fazer chegar a informação de uma forma diferente, de uma forma que não só entre, mas que plante uma semente e que esta cresça e venha a dar frutos, ou neste caso, sabedoria indispensável. O HIV é um inimigo silêncioso, demasiado pacato para que possamos utilizar os seus sinais ou sintomas como alerta ou aviso e, no entanto, ele existe e não é uma realidade que nos passa ao lado! Como em várias outras coisas é mais uma bola que passamos para um campo que não o nosso, num campo onde nós não jogamos ou nos limitamos a ficar nas bancadas a ver a acção a decorrer, e isto é uma segurança tão ilusória. Com quantas pessoas infectadas já estivemos mesmo ao nosso lado, sentadas connosco no metro, num restaurante, sem qualquer possibilidade de lhe conhecermos este rosto mais sombrio. O HIV não se vê, demora a manifestar-se e é importante desmitificá-lo como algo inerente apenas a grupos de risco. É importante saber que em Portugal, embora os números mais elevados sejam nos utilizadores de drogas injectáveis, os heterossexuais são um grupo em iminente crescimento (não que isto desresponsabilize todos os que não pertecem a nenhum destes dois) e que têm de aprender novas formas de protecção e negociação da sua própria vida. Sei que este talvez não seja um tema que interesse às pessoas que aqui passam, mas achei importante deixar o alerta. Não ignorem este inimigo que existe, não lhe dêem mais uma vantagem de se considerarem invulneráveis à sua força silenciosa e, por isso, lhe abrirem portas com comportamentos de risco. O prazer não paga uma vida e essa vida pode ser a vossa... uma boa semana, uma semana de comportamentos seguros.