terça-feira, agosto 24, 2004

uma coisa como outra qualquer

Tanto tempo esperara para demonstrar um simples afecto que sentia quase como se o tivesse esquecido. Estavam ambos deitados na cama, de lençois adocicados pelo cheiro do perfume de Pedro, agarrados como se o tempo pudesse fugir. E fugia. Haviam perdido tantas energias na tentativa de esconder os seus sentimentos que parecia que pouco sobrava para se amarem. Mário pensava, com uma ira que crescia baixinho, de dia para dia, porque teriam de esconder um sentimento tão bonito, algo que sentiam dentro de si como sendo correcto. Poderia ser que o amor podesse ser algo errado? Como seria possível ter de esconder algo que, nas suas almas, parecia tão claro como a própria água que corria nos rios? Não compreendia, mas não queria perder um só minuto do seu tempo com Pedro nesse tipo de divagação. Queria amá-lo! Saberia ele o quanto o amava? Teria ele dito vezes suficientes para que não ficasse em dúvida o que corria nas suas veias? Encostado ao seu ombro, afundado de nariz no seu pescoço, Pedro dormia um sono profundo. Mário afastou-o pousando-o delicadamente na almofada, precissava de o observar. A luz era ténue no quarto, mas conseguia ver perfeitamente cada linha do rosto do seu amado e como ficava bonito enquanto dormia, recuperava o ar inocente que se vai perdendo no tempo, pelas situações que a vida nos trás. Beijou-o, mesmo sabendo que isso o iria acordar, não resistiu. Pedro respondeu-lhe com um sorriso e Mário, passado uns instantes, percebeu que deixara de respirar, aquela beleza ainda hoje o parecia encantar. Aquele sorriso, a expressão de uma cara que nunca mais ousara esquecer mesmo quando anos mais tarde se lembrava daqueles momentos, era como um encantamento, uma magia, que não conseguira nunca apreender. Mas nem tudo é feito para ser compreendido, nem tudo é feito para pensar e foi assim, enquanto olhava para aquele que seria o seu companheiro, a sua cara metade até que a morte os separasse, que adormeceu num sono sem sonhos...

1 comentário:

Filipe de Sousa disse...

Como seria possível ter de esconder algo que, nas suas almas, parecia tão claro como a própria água que corria nos rios? ... esperamos que não se trate da água do Tejo...
fica bem...