segunda-feira, agosto 23, 2004

Tempos Passados

Como continuar a amar-te depois de todo este tempo?
Como mantenho viva em mim uma chama que há muito devia ter morrido?
Mas vivo, como quem nunca deseja morrer,
como quem nunca poderá desistir,
vives em mim! Chama intensa,
que não sabes como morrer,
que não sabes a quem te dirigir.
Amo-te sem nunca te conhecer,
conheço-te sem nunca te ver e,
no entanto, existes pela dor que crias em mim,
pelo tormento deste amor nunca esquecido
que muda tudo o que há dentro do ser.
São estes castelos de nuvens
que construo sem ti,
sem qualquer base de conhecimento,
sem alicerces...
Morres dentro de mim para me dar uma vida
que pensava estar morta,
vives fora de mim, num espaço tão longinquo que não me permite viver,
mas vivemos! Num espaço e tempo
que não nos pertence
num amor que nunca iremos realizar.
Hoje, como há tempos atrás,
seria capaz de morrer só pelo beijo,
pelo cheiro e toque,
que nunca me foi permitido alcançar...

Voltou a mim esta poesia morta, de cheiros intensos, de palavras esquecidas num canto qualquer, de um coração moribundo que chamais poderia adormecer..

1 comentário:

Filipe de Sousa disse...

Olá afilhado...
É duro ver-te ou "ler-te" assim.
Há momentos difíceis na vida... momentos que parecem querer ser uma constante na existência. Não o são.
Continuar a amar é qualquer de impossível, isto se implicar que um dia deixaste de o fazer. O Amor é uma constante, mais que o sonho e mais que o desejo de Amar.
Se calhar é por isso que ainda acredito no Deus Jesus Cristo. Amar é uma actividade. É como ser feliz. Muda a forma não a substância. Amar é esse pedaço de paraíso. Para mim Amar é uma actividade da alma. Não sabe morrer, não o pode fazer... é por isso que tantas vezes custa dar um passo... é como aquilo que sabemos ser... tantos anos quisemos que fosse apena uma ilusão, que mudasse, que morresse... ainda lá está porém... morreram um pouco os grandes conflitos... fizemos paz com aquilo que não poderíamos ignorar.
Amar é como não viver. O Amor tem vida própria. Vive em ti mesmo que o não queiras...
O Amor é cíclico e dinâmico - é uma minha redução ontológica e literária.
Podemos sempre escolher alguém conscientes que o estamos a fazer. Fazer uma escolha do género ajuda a ultrapassar os conflitos que nascem quando a imagem do outro deixa de ser a nossa e passa a ser a real...
A solidão é dura... eu sei... mas vale a pena vivê-la enquanto a temos. Podemos rebuscar-nos com mais tempo e tranquilidade. Descobrir as nossas capacidades de amar. É uma coisa necessária para podermos usar as nossas potencialidades... usando linguagem "sistémica" - usar os nossos recursos...
obrigado mike... a sério... obrigado...