quinta-feira, abril 28, 2005

A ti Velhice...

Hoje vi-te uma face diferente,
vi-te a juventude desgastada pelo tempo,
as rugas marcadas pela idade,
e falavas num sofrimento emergente...
Disseste-me olá uma vez mais,
demonstrando que me aguardas calmamente,
que esperas que um dia eu te alcance.
Neguei-te novamente sentindo-me impotente,
sabendo que serás tu a minha sorte!
Sorriste-me, percebendo o meu doce desespero,
o meu medo em alcançar-te...
Perguntaste-me, calma, se temia a morte,
disse-te que não, que não era esse o meu medo.
Olhaste-me com os teus olhos já vazios,
procurando em mim uma nova solução,
uma resposta que fosse em tudo diferente...
e eu olhei-te nos olhos friamente,
e disse-te: não te quero em meu horizonte
porque para mim não és mais,
em nada diferente, desse monstro chamado solidão...


Por estranho que pareça, mais do que à doença, no meu local de estágio vejo demasiado sofrimento ligado à velhice, a esta fase que deveria ser totalmente diferente, que não deveria significar o abandono a que vejo delegada tanta gente mas sim uma partilha de conhecimentos acumulados numa vida... mas como se transmite conhecimento se não há quem o receba? se aqueles que mais amámos durante anos se afastam por cada nova ruga que aparece?... às vezes tenho medo de chegar a esta fase, medo de todas as perdas que ela representa, medo de chegar a um ponto onde não possa ser auto-suficiente e me aperceba, aí sim, da minha imensa solidão...

3 comentários:

celtic disse...

infelizmente na nossa sociedade cada vez mais desvalorizamos os mais velhos, porque eles já não encarnam o vigor da juventude, pq eles têm perdas e por isso mm deixam de ser úteis. porque afinal passamos os dias a correr em busca daqueles que nos satisfazem as necessidades e os velhos já não o podem fazer e ainda por cima ainda nos exigem de volta.
Confesso que para mim é um cenário assustador,como sabes ao longo dos anos convive com mtos velhos, de quem gostei mto, e percebi q o papel deles nas nossas vidas, apesar de não valorizado, é essencial e nem sp vemos isso.
para além disso, há lá riqueza maior que passar um boa tarde a ouvir histórias de antigamente com um bom café nas mãos ;)
beijinhos

celtic disse...

porra! isso é que é uma realidade feia! posso-te dizer que tive vários velhos na familia, mas até do que a maioria das pessoas (refira-se velhos proximos de mim) e nunca nenhum foi abandonado ou desprezado. no que dependeu de mim (nós) foram felizes até ao ultimo minuto. por isso te digo isso não é tanto assim qt pintas.. depende dos casos e claro está n´s temos sp o poder de mudar as coisas. :)

Anónimo disse...

"Ninguém gosta de velhos?"..Não meter aqui o afecto ao barulho..
No nosso país não há o respeito para com o idoso que deveria haver, noutros países este é até cultural. Há uma falta de compreensão das famílias para com as velhos, porque nem sempre sabem como reagir às exigências e novas necessidades que se impõem; não esquecendo que a velhice traz mudanças para a pessoa (como uma "segunda adolescência") em que por vezes as pessoas tornam-se quase irreconhecíveis e é mto complicado para a família gerir isto. E as entidades de apoio/acolhimento de idosos funcionam ainda muito como local de exclusão e também não valorizam o idoso.
Há outras coisas para além do gostar ou não do idoso. Acho que isso é o que se põe menos em causa. Mas sim.. depois há uma percentagem da população que se está borrifando para os seus "mais velhos".
Mas eles são vivencialmente muito mais "ricos" que nós.. falta-nos é a compreensão. Ou a paciência?