Sei que lá fora acontece algo. Será o mundo que avança? Não sei como explicar a inércia que se apodera de mim. Ou devo dizer que se apoderou de mim? Estou no mesmo canto onde me deixaste cinco meses antes, as persianas continuam quase totalmente fechadas deixando apenas passar uma luz suficientemente fraca para não me ferir a vista. E o vazio. Sim, continuo com o vazio que também deixaste como companhia. Pelo menos uma vez por dia vejo o concerto que vimos na noite em que deixei de dormir para estar contigo, para "dormir" na tua cama sem que acontecesse nada mais do que dois corpos abraçados. Relembro a minha felicidade, a sensação de que tinha encontrado um entre milhões, de que a partir de agora tudo seria melhor. Uma ilusão que durou quase tão pouco como o tempo que dormi nessa noite. Vi-me acompanhadamente sozinho. Desgastado. Mudado. Vazio. Vi-me a afastar as pessoas que amava e a ouvir da sua boca que eu não era o mesmo, que tinha mudado. Mas não fui eu que mudei pois não? Eram eles que não percebiam o que nós tinhamos, a forma como tudo era intenso! Pensei até que as discussões praticamente desde o primeiro momento podiam ser um bom sinal, sinal de um envolvimento de um compromisso. Nunca o foram. Eram as tuas armas para me deitar um pouco mais abaixo, para me fazer sentir ainda mais desvalorizado, mais vazio. Criaste um vício que me consumiu literalmente até ao nível físico. Exigiste e voltaste a exigir. Mas alguma vez chegaste realmente a dar alguma coisa? Ah sim, as tuas tremendas mudanças que eu não conseguia compreender e analisar, mesmo não sendo o comum dos mortais... e no final manipulaste-me de uma forma brutal. Levaste-me a duvidar dos meus sentimentos. E olha que eram fortes, se calhar ainda o são. Levaste-me a terminar contigo o que tinha jurado a mim mesmo nunca abandonar... e fizeste-me sentir ainda pior do que já estava naquele momento. Eras a vitima abandonada com mais um drama de vida para resolver. Mas como dizer-te que os teus dramas és tu que os crias? Foste tu quem me fez desistir, foste tu que provocaste mais uma dor no teu já vasto reportório. Talvez apenas te tenhas cansado de alimentar o meu vicio...
Continuo no mesmo canto escuro onde me deixaste. Sei que mesmo assim já abri um pouco mais as persianas porque existe aqui uma luz que antigamente me teria ferido a vista! Pode acontecer que apenas tenha finalmente aberto os olhos que tão insistentemente quis manter fechados após a tua partida, após a tua descrenças em nós. Pois afirmo-te agora, nunca houve um nós. Houve um eu que tentou desesperadamente e nunca alcançou, um eu que quase se destruiu por tua causa... mas eu vi o filme antes, vi o filme nos que te são mais chegados, e no final de contas eu consegui proteger o que era mais importante. Eu protegi-me a mim como tu jamais te protegerás a ti. Adeus...
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