Bastou uma noite para que tudo acontecesse, para que todos os sonhos se tornassem realidade sobre os seus corpos nús. Ainda há pouco se conheceram e era como se por toda a vida tivessem sido companheiros, como se sempre houvessem partilhado todo o íntimo dos seus seres. E ali estavam, deitados sobre aquele leito, do qual só muitas horas mais tarde ousaram sair, com um grande sentimento de perda. Ali ficara um primeiro sonho partilhado, na cumplicidade dos seus corpos que momento antes se tinha unido em calorosos movimentos. Foi ali que cresceu esta magia, um sentimento de não mais querer largar, de deixar para trás pedacinhos de cada um quando tinham de se separar... Na realidade nenhum queria um relacionamento, a mágoa já prescrita com data de acabar, viviam assim aquela amizade colorida, que os prendia um ao outro, que tornava tudo certo quando compunham aquela secreta sinfonia na intimidade do seus mundos. Sim, era secreta esta partilha, ambos receavam as reacções, nenhum sabia o que esperar do outro, tudo tinha acontecido, tudo tinha sido tão bonito, porque haviam de estragar? Deixavam em aberto a possibilidade de virem a amar, mas para já viviam nesta tão sua harmonia. Eram, por assim dizer, dois clandestinos, mas isso só aumenta o desejo que entre eles crescia a cada dia, embora houvesse também o desconforto, um sentimento de estar a enganar aqueles que ambos amavam de formas tão distintas... Nenhum resistia àquela chama que se erguia, era impossivel contrariar este desejo que ardia assim que os seus olhos se encontravam, esta beleza e entendimento que pelos dois se estendia. Chamar-lhe-iam alguns de amor? Bem, talvez. Como negar que entre os dois algo existia?
Voltaram a encontrar-se pouco depois, talvez no dia seguinte a essa madrugada, iam com receio desta nova alvorada, mas o mundo desapareceu num só toque e todos os sentimentos abriam portas à ansiada alegria. Mas também o medo tinha o seu papel nesta melodia, o receio de que algo não corresse bem, que podesse acabar de uma forma que os zangasse... e aí eles morreriam, como passar os dias sem os risos um do outro? sem as suas brincadeiras de criança, sem nunca existir o seu toque cúmplice que tão reflectidamente escondiam... Na verdade também escondiam um do outro, pouco sabiam sobre quem eram, partilhavam assim o seu gosto pela farsa contida nas peças destas vidas sem saberem que mais havia a explorar! Não falam de coisas complicadas, ligam-se pelas banalidades do seu dia-a-dia e pouco mais, não precisam de mais nada para se sentirem completos, um do outro a cada instante.
Ainda hoje se tenta perceber porque existe este sentimento entre os dois, o que une estas almas desta forma tão intensa não lhes permitindo resistirem-se mutuamente sempre que se encontram. Não se sabe também como correrá esta história que aqui se apresenta, que mistérios irão desvendar pelo tempo que corre entre os dois. Há quem jure que ainda hoje passando à sua porta, se ouvem os risos da sua eterna alegria...
Deseja-se mais um final feliz, que não lhes encha uma nova página no seu já extenso livro de mágoas, outro dos gostos que partilham...
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