O tempo que decorre em suaves momentos, quase estáticos, subtis, quase imperceptíveis e a minha memória, como sempre, pressa a ti. Oiço os acordes de uma música clássica, quase calma, que me acompanha e a imaginação vagueia algures em tempos perdidos. Daqueles que nas fotografias apenas poderíamos obter a preto e branco ou em tons de sépia, momentos gastos não só pelo tempo mas pela quantidade de vezes que são revisitadas. Como antes ansiei a tua chegada, como se fosses um tipo de cura a todos os meus males, estava enganado, nunca o foste. Vieste apenas tapar buracos, mágoas, que de tão profundas são já impossíveis de tapar. E almejei, sim, por esse momento em que pudesse repousar, onde serias tu a lutar por mim. Podia ser só por uns instantes, ou talvez não. Quero parar para que me alcances, serás capaz? Vejo-te tão recolhido nas tuas mágoas, fechado por detrás de muros que mal consigo vislumbrar, quanto mais derrubar... ter-te-ão feito assim tanto mal numa outra época? Ao ponto de estares no escuro como um gato que lambe as suas feridas?
Três horas, são o tempo que o relógio me acusa de ter ainda de aguentar. A música, como as memórias, toca repetidamente no computador. Descoberta numa pasta esquecida pelo sistema, mas sobretudo pelos seus utilizadores. Debussy's Claire de Lune. Sempre gostei desta música e porém só hoje lhe descobri o nome. Ironias do destino ou da vida. Penso em ti. Não com a esperança que ainda haja algo para ocorrer mas porque esses muros que usas para te proteger são os mesmos que me repelem, que me deixam horas à espera de uma simples notícia.
Queria ter em mim ainda a forma de lutar como sei que já tive em tempo, mas a chama não se acende. Sei que te uso apenas para tapar um novo vazio que já se estava a instalar. Entregar-me? Dar o meu coração? Sim, fiz isso uma vez e quase, por muito pouco mesmo, estive à beira de não regressar. Se Tens muros? Claro! Mas essa nunca foi a questão, essa reside apenas no facto de eu os querer ou não ultrapassar...