quarta-feira, agosto 30, 2006

Confrontos

Olhou-o nos olhos dando a entender a emergência do seu pedido, por dentro todas as emoções se debatiam em conjunto criando uma confusão fora do vulgar. Queria dizer tantas coisas e nunca nenhuma saía realmente como era sua intenção. Manteve-se calado, de olhos presos nos olhos dele. Por dentro sabia que não tinha por onde fugir e isso assustava-o, como se fosse uma faca cravada numa ferida aberta ainda a sangrar, morria um pouco a cada dia. Tinham-se passado anos e desses anos pouco restava, pouco mais do que uma leve nostalgia pelo tempo perdido em tantas discussões. - Nunca me amaste pois não? - Quase automaticamente arrependeu-se da pergunta. Para quê perguntar algo que já se sabe há tanto tempo a resposta? Mas tinha de ouvir as palavras proferidas pela sua voz, uma voz que ao longo do tempo amou tão intensamente. - Amei. Tu é que nunca soubeste compreender a minha forma de amar. - Olhou-o nos olhos uma vez mais. Os olhos anteriormente claros estavam agora escurecidos pela dor, pela passagem amarga do tempo. - Não, não me amas-te. Ficaste preso a outros tempos e eu não fui mais do que uma distracção. Eu soube compreender o teu "amor", como lhe chamas, agarrei-me a ele para tentar construir algo. Agarrei-me com demasiada força ao ponto de me cegar. Tu não me deste nada e é com esse nada que eu fico agora... - as lágrimas corriam-lhe pelas faces de forma descontrolada, urgente. Pegou na mala há tanto feita, andou um pouco em direcção à porta e olhou para trás. - Foste tu quem nunca compreendeu o meu amor, tu que não soubeste compreender tudo aquilo que eu te quis dar. Foste tu quem não soube aproveitar o coração aberto que pus nas tuas mãos. - voltou-se novamente para a porta, as lágrimas iam ficando marcadas no chão de pedra em pequenas marcas de água. Abriu a porta e olhou para trás, despediu-se daquele que fora o seu mundo durante tanto tempo e saiu. Saiu livre para amar.

1 comentário:

Luís disse...

Que encontre o amor... sem se preocupar em o encontrar.