sábado, agosto 20, 2005

Num outro ponto qualquer

Ao fundo uma parede laranja limitava a sua existência e esse sentimento era estranho. Que seria que o prendia áquele lugar se na realidade não existia mais nada ali para explorar, nenhuma novidade, nenhuma progressão? Sentia medo, mas esse medo era também irracional, como se fosse sentido por coisas irreais, inexistentes. Nos últimos dias existia uma ansiedade crescente em si, algo que não tinha causa aparente, que se limitava a estar ali no seu interior. Claro que havia também o vazio, mas esse não era perceptível pela sua habituação à existência deste elemento na sua alma, tornara-se rotineiro o imenso espaço em branco que sentia todos os dias desde que existia enquanto ser. Se lhe perguntassem acerca os seus sonhos não saberia responder, há muito que os sabia mortos mas isso era algo que simplesmente não se podia afirmar, estava errado! Errado? Tantas vezes se questionara sobre esta simples palavra para nunca perceber a sua aplicabilidade. Inútil para si o seu significado. E assim, mantinha o dia a dia aborrecido da sua vida, sabendo que esperava sempre um milagre por acontecer (que nunca aconteceria), por pessoas que há muito se extiguiram (e que também já pouco lhe diziam), por todas as coisas pelas quais sempre lutou mas nunca alcançou. Cumprira quase todos os objectivos propostos, sem nunca se aperceber que estes nunca tinham sido impostos por si... aguarda pelo dia de acordar do sonho em que, por breves instantes que fosse, controlasse um pouco mais o seu destino e tudo aquilo que acontecia à sua volta. Fora abandonado muito antes de nascer enquanto ser individual, apenas amado até ao dia em que, por motivos inexplicáveis, decidira usar a mente para pensar sem se subjugar aos desejos daqueles que diziam amá-lo tanto quanto à sua própria vida...

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