Hoje aprendi mais uma pequena lição para a minha vida. Poderia falar da habitual lição da impossibilidade de controlar e prever as coisas, mas tudo isso seria demasiado banal. Podia dizer-vos que o meu dia começou com chuva, com perder um comboio às 8:30, por não conseguir entrar no comboio das 8:40 por ir tão cheio, de chegar a entrecampos e não haver metro entre entrecampos e o campo grande, de cair um dilúvio que nos impedia de ir a pé para as aulas (umas das quais a minha favorita), de termos discutido com o sr. da cp que não nos deixou passar pela estação, entretanto fechada, e nos obrigou a ir à chuva, de levarmos com as varetas dos chapéus dos outros que não sabem ter cuidado... mas nada disto é o que vos quero aqui contar. A lição que aprendi ocorreu muitas horas depois, no regresso a casa depois do trabalho. Eu já estava sentado no comboio, a ler um artigo até por sinal, quando um casal se sentou ao meu lado. Não era um casal qualquer, não sei se já repararam num grupo de jovens que costuma estar pela baixa a pedir esmola, mas que estão sempre a fazer malabarismo ou truques com o fogo? Pois bem, era um casal desse grupo que se sentava ao meu lado, começando o rapaz por me pedir desculpa de terem escolhido sentar-se ali. Terei eu feito alguma cara de incomodo da qual não tenha tido consciência? ou será apenas que ele pressentiu que poderia não me agradar a sua companhia? fiquei sem perceber, a verdade é que isso me descontraiu, de certa forma senti uma simpatia por aquele jovem casal. Mas a lição não vem daqui, vem do estar eu a ler o meu artigo em inglês, pensado na minha estúpida importância de quem consegue ler tal coisa, quando o rapaz pede a rapariga que lhe passe o jornal. Não vos consigo descrever, a alegria da sua cara ao pegar no jornal, abrir a página que desejava e começar a fazer as palavras cruzadas como todas as outras pessoas que conhecemos e amamos... a rapariga com igual satisfação a ler um livro (que não percebi sobre o que era, mas me parecia de foro técnico)... e senti-me ridiculo, minúsculo, por na minha estereotipada convicção não lhes atribuir tais feitos, por achar extraordinário que fossem capazes de tal coisa... imagine-se, ler, resolver palavras cruzadas.
Não sei se percebem o que quero dizer, mas por baixo de um aspecto que deixa tanto a desejar, descobri dois seres humanos que me neguei a ver de inicio e com os quais provavelmente teria tanto a aprender... a lição que daqui tirei é que não conseguimos desligar-nos das nossas crenças estúpidas, que não somos tão isentos quanto por vezes pensamos ser, que na realidade temos mtas palavras cruzadas e livros para ler....
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