sábado, abril 24, 2010

Abre-se a Janela

E sente-se a aragem que vem com promessas de renovação. Um ligeiro toque a flores e primavera acompanhado de um chilrear leve e alegre dos passáros da estação. Encostado à lateral de uma janela penso em ti, penso nos momentos do início, em tudo. Ou pelo menos tudo aquilo que consigo lembrar, os já muitos anos que me acompanham não poderiam deixar de pesar e ainda assim no nosso amor pareço uma criança acabada de nascer. Aquela que conhece o mundo pela primeira vez e sente o desagradável toque do ar nos seus pulmões, o ardor, que como tantas outras coisas na vida se transforma em algo inevitável e indispensável - o respirar! Penso em tantas dores e ardores que tivemos ao longo desta vida, uma viagem sem dúvida inesquecível e partilhada, em que coisas dolorosas se tornaram transformações e pontos de partida. Sim, meu amor, foram elas quem mais nos moldaram e foram reais chances de mudanças e crescimento. Que seriamos nós se tudo tivesse sido simples? Sem obstáculos que nos obrigassem a cair e levantar e muitas vezes esfolar os joelhos quase até fazer sangue?!
Sim, eu olho para a vida que passou e sinto-me abençoado por cada pequena coisa e ser que dela fizeram parte, mas tu és a que mais falta me tem feito. E embora fosse o teu tempo de partir como podeste fazê-lo sem me levar contigo? O teu companheiro de todas as viagens... Sem ti nada parece ter metade da intensidade e importância, da cor ou cheiro, sinto-te a falta como do primeiro ardor ao respirar, inevitável e indispensável!
Penso, meu amor, que chegou a hora de também eu partir e por isso vou fechar os olhos à tua espera, muitos anos se passaram e este meu corpo chegou ao fim. Peço-te apenas que me venhas buscar aqui porque és tu quem eu mais quero ter nesta passagem ao meu lado. Sinto uma nova cor que se aproxima, uma cor mais pura que todas as outras e muito, muito mais quente! Que saudades de ti...

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