Adeus
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava!
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os teus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os teus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...
já não se passa absolutamente nada.
E, no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração.
Não temos nada que dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
(Em tempos usei este poema numa peça de Teatro e sempre o adorei. Fica aqui para quem o quiser ler. É também uma dedicatória ao meu pai que era amigo pessoal deste grande poeta.)
3 comentários:
Lindas palavras sem dúvida....
Mas não estás a dizer-mos Adeus pois não ?!!!
:(
Não podias ter escolhido melhor poema para que eu pudesse deixar este último comentário, justamente no dia em que o pretendia fazer. E como não podia deixar de ser, um ditado popular como epígrafe: “Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe.”
A todos e a todas, anuncio o regresso deste blog aos tempos mortos do passado, antes de eu iniciar as minhas intervenções há cerca de 4 meses.
Para o bem ou para o mal, com risos ou com fúrias, com seriedade ou com brejeirice, com simpatia ou com ironia, com serenidade ou com histerismo, com perspicácia ou com ignorância, com mentiras ou com ilusões, com erros ou sem eles, todos vocês desperdiçaram o vosso tempo a ler e a responder aos meus comentários. Agora, é chegada a altura de lhe sentirem a falta.
A ti Michael, há que reconhecer-te um certo grau de paciência (afinal, talvez não venhas a estar tão mal na profissão que escolheste), mas no fundo, tu bem sabes que o que mais lucrou foi o teu próprio blog. Continuarei a ver-te por aí, literalmente, e talvez um dia, não muito distante, eu te revele o que sempre tiveste diante dos olhos. “A vida é uma comédia”
Aos outros, aos que se excitam com os ditados, aos que vendem peixe na praça, aos românticos de olhos vendados, aos que não gostam de quem esconde a cara mas se assustam com o que vêm no espelho (quando cabem nele e estão a usar uns óculos design), aos que até revelam um certo bom senso, ainda que a precisar de maturação, a todos, sem excepção, até nunca camaradas!
Nunca desistam de ser alguém mas deixem de insistir em ser o que nunca serão!
O Anónimo
Foi desde o início sempre um cálculo bem feito, isso tenho de admitir. E sim, não duvido que haverá quem sinta a falta dos teus comentários. Quem sabe talvez até eu. Sinto que serias um óptimo crítco não fosse a tendência sempre mais destrutiva que construtiva, mas talvez tu possas maturar isso com o tempo.
O blog regressará sem dúvida aos tempos mortos do passado, mas tal como estava antes de cá vires mantém as portas abertas a todos aqueles que nele queiram participar. Essa foi e será sempre a minha política.
Podias ter saído em grande sem a parte ofensiva que dedicas a algumas pessoas, mas pronto... nada é perfeito. A ti, o Anónimo, um até sempre e que a vida possa trazer-te a alegria que desejas. Farewell...
Enviar um comentário