Talvez a neve caisse lá fora se as temperaturas mantivessem as baixas que vinham a sofrer há já alguns dias. Na realidade não dava muita importância a este factor, mesmo sabendo que a neve seria sem dúvida uma ajuda para aumentar o espírito natalício da época, não sentia muito a sua falta. Sentia o calor vindo da lareira enquanto olhava pela janela. Na realidade não olhava para fora mas para dentro de si. Gostava deste ritual de junto de uma vista para o exterior partir numa viagem de instrospecção, uma tentativa de maior auto-conhecimento. Estava assim perdido no seu interior. Crescera naquele ano, disso tinha certeza. Mudara. As suas dúvidas mantinham-se apenas no aspecto deste crescimento, desta mudança. Teria sido para melhor? Não sabia responder. O processo de amuderecimento parecia-lhe algo mais penoso do que imaginara ser na realidade. Não que o processo fosse propriamente doloroso, mas levava a perder coisas que estimava, estados de espírito que pareciam tê-lo abandonado de forma definitiva. Suspirou. Agora um pouco mais presente na imagem exterior via as luzes nas janelas dos vizinhos. O cintilar alegre das luzes coloridas. Quase conseguia imaginar as músicas natalícias que acompanhavam o seu frenesim. Era quase natal! Mas pouco, muito pouco, parecia manter-se num espírito igual aos seus tempos de infância... crescera, mas dentro de si não queria matar a criança que um dia fora, a criança encantada com as luzes e músicas, a criança que ansiava pela noite de natal!
2 comentários:
"Não que o processo fosse propriamente doloroso, mas levava a perder coisas que estimava (...)"
Fica atento, pois corres o risco de estar, também, a perder pessoas no processo...
Não posso levar em conta conselhos que são anónimos... as pessoas que se perdem no processo são aquelas que também não têm mt interesse em manter-se por perto...
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