É conhecido por todos a teoria que defende que ocorre uma desilusão grande nas crianças quando se apercebem que os pais não são os "Herois" que elas pensavam. Até certo ponto consigo compreender e concordar com esta teoria. Porém, olho agora para os meus pais e para outras pessoas que foram, e são, marcos para mim, e vejo que não é uma questão de desilusão. Ou pelo menos, não de desilusão para com eles. Acho que o que acontece é muito mais profundo que isso e que se mantém por toda a nossa vida. É um processo bilateral, reciproco se quiserem. Alguma vez se questionaram se somos os filhos que os nossos pais sonharam e projectaram que seriamos? As suas próprias desilusões quanto a todo o processo de criar um descendente?
E tudo isto me parece irrelevante... porque não se trata de desilusão realmente. Acho que o que acontece está na forma como conseguimos assumir os papeis destas pessoas mais próximas, que nos são mais queridas. Para aqueles que têm formação em psicologia compreendem facilmente se disser que se trata da forma como nos pomos na "pele" daquela pessoa e também muito da nossa empatia com ela. Quem não sente que os pais não têm sexo? Que mesmo sabendo por A + B que eles são pessoas normais, que não sente que eles são especiais, como se tivessem um super poder qualquer... E não, não é desilusão. É a dificuldade que temos em aceitar que são realmente pessoas como nós, que podem ter as mesmas dificuldades, os mesmos sonhos, os mesmos desesperos. Que são fracos em determinadas ocasiões e que metem a pata na poça tal e qual como nós... Custa-nos a aceitar que um dia aquela pessoa não vai lá estar... Mas se a criarmos na nossa cabeça como um ser de alguma forma "superior", torna-se mais fácil. Porque os pais não têm problemas económicos, não tem dificuldade em ultrapassar as dificuldades e têm sempre, mesmo sempre, que saber orientar-nos na resolução de problemas e situações dificeis. E para eles é tudo tão dificil como para nós. Talvez ainda mais dificil pela frustração de não nos poderem proteger de tudo e todos, por nos afastarmos pela necessidade de sermos nós próprios, com opiniões e desejos próprios... E se lhes fosse dada a opção, como nós os manteriamos sempre como os nossos heróis imortais, eles manter-nos-iam como crianças pequenas que podessem mimar e proteger daquilo que se torna o desafio a que chamamos vida. E se calhar o que todos deveriamos perceber é que é exactamente esta nossa mortalidade que nos torna seres únicos e que faz com que cada marca que deixamos numa pessoa, pelo mundo, é realmente o maior de todos os nossos tesouros...
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