Escrevo mais por necessidade e obrigação do que pela vontade. Não é que em mim não exista vontade, mas o cursor que pisca retira-me a creatividade, rouba-me os mais intimos devaneios. Já várias vezes aqui estive... porque será que desta vez sinto tanto medo? Talvez o receio de me expor um pouco mais, de me envolver nesse mundo fantástico que é a escrita, a imaginação! Passo tantas manhãs a tentar resistir-te e ainda assim... caio no mesmo desespero de quem nunca soube ausentar-te de facto. Já não me fazes falta! Mesmo que ainda pense em ti quase todos os dias, as tardes, as noites... Estou livre de ti! E embrulho-me comigo. Com decisões adiadas, com planos suspensos, com o sono que teima em nunca chegar. Estou bem. E talvez por isso não escreva, porque me faria mentir a realidade, porque me levaria a recorrer a tantas fantasias já olvidadas. Na noite, os cortinados revelam-me agora o que os vidros antigamente ocultavam porque desnudos tudo reflectiam. Vejo os meus pensamentos, os sonhos que pensara perdidos ou ultrapassados, vejo-te a ti! Mas a ti já esqueci! Porque insistes então em não abandonar a minha consciência. Porque teimas em aparecer... Estou bem! Nesta minha prisão do habitual, na passividade dos dias que passam, dos minutos e horas que correm, em dias que se evaporam. Não quero viver mais a minha vida, quero liberdade, quero encontrar os meus sonhos, quero... quero coisas que não posso aqui escrever porque as tornaria demasiado reais, dolorosas. Mas estou bem! Esta é a frase a reter, a repetir e absorver. Antigamente tinha receio de dizer as coisas muitas vezes porque elas podiam desaparecer, agora repito-as até à exaustão com o desejo que por tanto as repetir se tornem reais. Na realidade nunca foi de nenhuma das duas maneiras, mas também o racional nada tem a ver com isso. Sim, não escrevo por vontade! Porque por vontade eu não estaria aqui...