segunda-feira, janeiro 22, 2007

Palavras presas ao vento

Tentei escrever um poema e não consegui. Decidi abri uma velha pasta onde guardava todos os meus antigos rabiscos, tentei obter alguma inspiração. Reli velhos poemas, ou devo antes dizer, velhos pedaços de mim? Encontrei o ser diferente que fui em tempos e percebi porque não havia mais poemas guardados em mim. Talvez até seja melhor assim, nunca achei que o meu jeito fosse muito para este tipo de escrita, tenho até dúvidas que a escrita seja um jeito de todo que faça parte das minhas habilidades. Mas que dizer? Sempre gostei de escrever, é pela escrita que ainda consigo expressar-me melhor. Nunca tive muito jeito com as palavras. Ou talvez seja mentira. Tinha em criança uma grande capacidade oral, falava horas a fio sem me cansar, sem me faltar a temática. Ninguém o diria olhando agora para mim. Dizem as histórias de encantar que o patinho feio se transforma em cisne. Mas a vida ensina-nos que nem sempre é assim. Pessoas há que já nascem cisnes, outras que nunca saem do estado de patinho feio. Mas nunca gostei de extremos, fico-me pelo meio caminho, mesmo que não seja esse o lugar escolhido para mim. Porém falava eu das palavras antes deste pequeno desvio. As palavras são libertadoras da alma, com certeza é por isso que fazem parte de tantos tipos de terapia. O que é na realidade um diário, uma carta escrita e que nunca vamos entregar, um desabafo, uma mensagem deitada ao mar ou queimada até às cinzas? São pequenas libertações, são desabafos, serão num estado último autos de fé. Fé de que as coisas serão diferentes, de que se expressarmos o que vai cá dentro tudo poderá ser melhor, mais bonito. Gosto da calma. Sempre gostei de ser uma pessoa diferente das demais. Sei hoje que muitos o interpretam como "mania", pode até ser verdade, não sei. Se calhar tenho a mania. Estou convencido que não pertenço a este meio, nunca pertenci em boa verdade. Nunca pertenci a lado nenhum. Chama-se a isso o resultado de mudar tantas vezes de sítio, tantas vezes de poiso. Mas sim, é um facto que sentirmo-nos desenquadrados é considerado muitas vezes "ter a mania". Ter a mania que se é "demasiado bom" para se dar com os restantes, para gostar das mesmas coisas... Há quem prefira o termo Snob. Não gosto da palavra confesso, porém parece-me que ninguém consegue ver a simplicidade das coisas que me guiam. Apetecia-me gritar ao vento que não gosto de ter a mania, não gosto de me sentir desenquadrado, não gosto de me sentir o patinho feio quando devia ser mais como um cisne. Mas já o afirmei anteriormente, sempre gostei de ser diferente. Talvez seja essa a minha mania! Li uma vez um poema que gostei muito. Já não me lembro exactamente das suas palavras mas tinham algo como:
"Cuidado quando fechares a tua mão
porque foi nela que guardei um bem precioso
foi nela que depositei uma vida
foi nela que reposei o meu coração"
.
Nem sempre é fácil ser diferente, muitas vezes torna-se demasiado doloroso. Chega até a ser completamente devastador. Muitas lágrimas sairam já do meu peito guiadas pelo desespero de quem se entrega demais. Quando nos damos demais é como se ficassemos cegos e às vezes é pela cegueira que acabamos por nos matar... Não queria ser um patinho feio, mas também não nasci para cisne. Continuarei calmamente à procura do meu lugar...